Jalapão é Bruto

No estado de Tocantins fica o Jalapão, uma região do cerrado brasileiro, o território do parque com uma área de 158 970,95 ha, área total de 34 mil km².

Esta região é considerada um dos maiores blocos de vegetação nativa remanescente no Brasil.

A principal cidade para quem visita o Jalapão é Mateiros, localizada a 300 km da capital Palmas.

O ideal é ir de avião até Palmas, nós chegámos desde São Luis do Maranhão, com paragem em Brasilia. Há voos diretos de Brasilia para Palmas, capital do Tocantins, e de lá é seguir de carro até ao Jalapão. Foi exactamente o que fizemos, pernoitando no Zii Hotel, tanto na ida como no regresso da nossa incursão por estas magnificas paragens.

Este Hotel revelou-se maravilhoso, tanto em termos de conforto, como moderno e decorado com extremo bom gosto.

Um carro com tração nas quatro rodas é fundamental para circular pelo Jalapão.

A maioria das estradas da região é de terra ou areia e estão pouco sinalizadas. O terreno é traiçoeiro e é altamente recomendável um veículo 4×4 e um motorista experiente.

O Jalapão é BRUTO, dizem por lá... e acreditem que é bem verdade, rabo e costas preparem-se pois são muitos e muitos Kms de pancadaria e cabeçadas!!

Nós optámos pela agência Jalapão Extremo, e confesso que desde logo, pela simpatia e disponibilidade da Sra Simone no atendimento via Whatsapp.

O nosso motorista foi fantástico, rimos muito, brigámos muito com as estradas, o Leoni foi sempre afável, tranquilo, pontual e cheio de sentido de humor.

O Jalapão pode ser visitado durante todo o ano, pois a temperatura média na região ronda os 30°C. Nós apanhámos um calorzinho...

A temporada seca vai de Maio a Setembro, sendo que os meses de Maio a Julho são os melhores para viajar e foi assim que escolhemos e lindo Maio. Pelo verde esplendoroso.

Ficamos por lá 3 dias inteiros excluindo as duas noites em Palma e conseguimos ver os principais atrativos da região.

Não se encontram hospedagens de luxo apenas pousadas bem simples, nós ficámos na Buritis e gostámos bastante. Nada a reclamar, tudo muito básico, mas com óptimo pequeno almoço e internet a funcionar razoavelmente.

Os passeios das agências incluem tudo menos as bebidas às refeições e claro que dependendo dos lugares, percebe-se que já tendem a explorar os turistas que acabam por pagar por uma ou duas cervejas o preço de uma ou duas refeições... e atenção é uma latinha bem pequenina, nada de garrafas grandes! Mas enfim, o ideal será perguntar o preço antes de pedir e assim consumir o que desejamos. Para estas situações convém ter dinheiro cash, pois não há possibilidade de utilizar os cartões.

Não esquecer a máquina fotográfica para registar estes momentos, eventualmente subaquática será fantástico.

Sapatilhas para água e trilha, protector solar, repelente de insectos; lanterna, roupas simples e leves e para banho; mochila, pareo ou toalha daquelas que absorve facilmente a água e que não ocupa muito espaço, bolsa impermeável e alguns snacks saudáveis tipo frutos secos;

Esta última dica tem a ver com o nosso primeiro almoço que foi uma espécie de pacotes de bolachas, com pacotes de amendoins chineses e uma série de doces e pão de forma com queijo... enfim naquele momento felizmente tinhamos umas nozes, um caju comprado no maranhão, umas bolachas um pouco mais saudáveis..

E sendo que na hora do lanche não tínhamos nada nem onde ir comprar, com o jet lag a apertar o estômago nada como algo para o enganar!

O nosso lindo passeio tem uma primeira paragem no CANYON SUSSUAPARA.

Fica escondido na vegetação, enormes paredões de pedra com doze metros de altura formam uma cortina com as árvores e a água que vai caindo, bem fresquinha.

A caminhada é bastante leve, apenas a descida é um pouco íngreme, por isso é bom ter atenção ao calçado.

Ao fundo uma pequena cascata.

Mais adiante paramos na CACHOEIRA DA VELHA que é a maior queda de água do parque do Jalapão.

Possui uma plataforma de madeira bem desenhada e integrada na paisagem na perfeição, de onde podemos observar tranquilamente a queda de água.

Depois é arriscar um bocadinho mais e chegar mais perto para a foto desejada!

São 100 metros de largura e 15 metros de queda.

Interessante observar como uma árvore cresce mesmo no meio da cascata, no paredão que separa as duas quedas.

A Cachoeira da Velha recebe as águas do Rio Novo, um dos maiores rios de água potável do mundo.

E dai seguimos maravilhados e desejosos de mergulhar na refrescante PRAINHA DO RIO NOVO.

O Rio Novo é um dos melhores pontos do Jalapão para um mergulho.

A Prainha do Rio Novo fica a poucos metros da Cachoeira da Velha, tem uma longa faixa de areia branca, água tranquila e muita sombra para quem quiser descansar.

Apesar da água tranquila, o Rio Novo tem bastante corrente. Evite nadar para o outro lado da margem e fique atento para não ser levado de surpresa. Infelizmente um rapaz de um outro grupo apanhou um enorme susto, foi levado pela corrente e uma amiga que o tentava ajudar também. Os guias foram em seu socorro e lá conseguiu já bem longe agarrar-se a uma pedra mais junto à margem! Apenas se tinha distraído a tirar uma foto subaquática. Mas acabou por ser um final feliz.

E seguimos para as lindas DUNAS de areia.

O intenso dourado toma conta das Dunas do Jalapão ao pôr do sol.

Dos tons de ouro ao vermelho sangue que se vão desenhando na areia das dunas perante o nosso olhar. A magnífica vista da Serra do Espírito Santo junta todos os que por ali passam numa espécie de oração conjunta!

O conjunto de dunas é formado pela erosão das rochas de arenito que formam a Serra do Espírito Santo, com a acção do vento e uma conjunção perfeita de fatores, a areia é depositada sempre no mesmo local, dando origem à única formação de dunas no cerrado brasileiro.

A partir do estacionamento, são cerca de vinte minutos de caminhada até o cimo da duna principal. Subir pelo grande paredão da duna é proibido — a fim de preservar a formação da areia.

Depois de nos despedirmos do Sol, rumámos ao nosso jantar, embora estivessemos muito porquinhos e a desesperar por uma banhoca, já era bem tarde e o jantar aguardava o pessoal.

Uma refeição simples mas onde não faltava frango, arroz e feijão, para encher a barriguinha!

Ficámos na Pousada BURITIS e depois deste grande dia, uma festança em Mateiros ouvia-se mesmo em cima dos nossos ouvidos, parecia ali no quarto ao lado, mas não.... era apenas na cidade mais próxima e nem dava para ir até lá a pé!

Mas o peso do cansaço venceu e lá recuperámos para no dia seguinte às 7 da matina já estarmos a tomar o nosso cafézinho!

Iniciámos o nosso dia com uma experiência bem diferente e interessante, um doce mergulho no FERVEDOURO do Buriti.

Encanta pela linda cor da água, que varia entre verde e azul, a depender do sol, e também pelos grandiosos buritis e as bananeiras que o rodeiam.

Tocamos com os pés no fundo e somos sugados com uma força que assusta, mas que logo nos repele de forma mágica!

Os grupinhos que entram são controlados, dispomos de uns 20 minutinhos dentro de água, mas que são totalmente nossos, por isso o importante é mesmo aproveitar ao máximo.

Se tentarmos flutuar sentimos uma sensação única de que aquele fervilhar nos segura cá bem em cima e não nos deixa afundar.

O fenómeno raro faz do Jalapão um destino muito especial. As pequenas piscinas que surgem no meio do cerrado arenoso são como oásis na paisagem. A água que brota nas nascentes e se mistura à areia vem com tanta potência dos lençóis freáticos que permite aos visitantes boiarem sem nenhum esforço. De fora o fervedouro parece ter chão, mas ao entrar é possível perceber que o que se vê é apenas areia em suspensão na água. Impossível alcançar o fundo e, o mais impressionante, impossível afundar!

De seguida, passámos num lindo trecho do rio e o Henrique desafiou-nos a entrar na água!

Foi hilariante, deslizávamos com a corrente, baloiçávamos nas lianas...

brincámos que nem crianças irrequietas nestas águas transparentes e límpidas, num espaço só nosso...

onde o próprio guia acabou por nos deixar... depois de perceber que éramos loucos e que só dali sairíamos quando o cansaço nos vencesse completamente.

E claro, nem assim, teve mesmo que nos chamar para o almoço acreditando que nem a fome nos arrancaria dali e afinal de contas havia a Comunidade do MUNBUCA (onde se deu início ao artesanato do capim dourado) para visitar.

Esta visita à comunidade não passa de uma visita a uma lojinha onde se podem adquirir, desde bijuterias, instrumentos musicais, a outros utensílios, objectos de decoração feitos de capim dourado. No entanto, confesso que é um trabalho bem interessante e que fica muito bonito.

O dourado que recobre as veredas do Jalapão revela muito mais que apenas um campo florido, encontramos aqui uma das maiores riquezas naturais da região.

No meio do cerrado arenoso nasce um capim com coloração dourada intensa que permite aos moradores a produção destas lindas peças.

Acho que seria bem mais enriquecida a visita se nos mostrassem como trabalham o capim e como vivem estas pessoas da comunidade.

A tarde foi divinalmente passada de molho na lindíssima CACHOEIRA DO FORMIGA.

O intenso verde esmeralda da água encanta sem qualquer espécie de hipótese de desiludir.

Deixe-se escorregar, levar com a corrente até aos troncos que separam a parte mais funda, da piscina onde se tem pé.... e volte mil vezes!!! E segure-se com força debaixo das quedas para levar uma massagem forte e deliciosa!

A transparência e a temperatura da água... o cenário.... extraordinariamente belo...

Borboletas enormes azuis de quem fala a lenda...

A lenda oriental da borboleta azul conta que há muitos anos atrás um homem ficou viúvo e teve que se responsabilizar por as suas duas filhas.

As duas meninas eram muito curiosas, inteligentes e sempre tinham desejo de aprender. Constantemente lançavam perguntas ao pai para satisfazer a sua fome pelo saber. Às vezes o seu pai conseguia responder com sabedoria, mas em muitos casos as perguntas de suas filhas o impediam de lhes dar uma resposta correta ou convincente.

Vendo a inquietação das duas meninas, ele decidiu enviá-las de férias para conviver e aprender com um sábio, que vivia no topo de uma colina. O sábio era capaz de responder a todas as perguntas que as pequenas lhe lançavam, sem sequer titubear.

Contudo, as duas irmãs decidiram fazer uma armadilha ao sábio para medir a sua sabedoria. Certa noite, ambas começaram a idealizar um plano: propor ao sábio uma pergunta que ele não fosse capaz de responder.

– Como poderemos enganar o sábio? Qual pergunta poderíamos lhe fazer que ele não seria capaz de responder? – perguntou a irmã menor à mais velha.

– Espere aqui, já vou lhe mostrar – disse a mais velha.

A irmã mais velha saiu pelo morro e regressou após uma hora. Tinha o seu avental fechado feito um casaco, escondendo alguma coisa.

– O que você tem ai? – Perguntou a irmã menor.

A irmã mais velha colocou a sua mão no avental e mostrou a menina uma bela borboleta azul.

– Que maravilha! O que você vai fazer com ela?

– Esta será a nossa arma para fazer a pergunta-armadilha ao mestre. Iremos procurá-lo e vou esconder esta borboleta na minha mão. Então perguntarei ao sábio se a borboleta que está na minha mão está viva ou morta. Se ele responder que está viva, apertarei a minha mão e a matarei. Se responder que está morta, a deixarei livre. Portanto, qualquer que seja a sua resposta, estará sempre errada.

Aceitando a proposta da irmã mais velha, as meninas foram procurar o sábio.

– Mestre – disse a mais velha – Pode nos dizer se a borboleta que está na minha mão está viva ou morta?

O sábio respondeu com um sorriso maroto: “Depende de você, ela está nas suas mãos”.

Daqui fomos até à pousada descansar um pouco e combinámos à noitinha o Leoni ir-nos buscar para o jantar.

Já olhávamos as lindas estrelas quando o carro cruzou a entrada da pousada.

Já morei na cidade e quase nunca tinha tempo de olhar para o céu, se olhasse via passar os aviões e pouco mais.

Por isso, assim que mudei de casa e já lá vão quase 30 anos, o meu céu também mudou, é um céu cheio de estrelas, de planetas, de constelações.... brilhante e cheio de vida.

Todos os dias olho o céu e bendigo o universo que nos privilegia e nos dá a honra de encontrarmos lugares como este onde o céu é ímpar e nos conduz por viagens de sonho entre as estrelinhas!

Tivemos um jantar maravilhoso, num lugar tão simples onde, apenas nós os 4, construímos o cenário mais bonito das noites jalapónicas: uma mesinha de plástico algures no meio da relva, com uma luz ténue e discreta, observando as estrelas, petiscando, rindo e desabafando, criando alicerces à nossa amizade!

A amizade é como as flores ... só elas perfumam a mão que as esmaga!

De manhã estávamos de novo preparados para mais uma viagem e seguimos até ao FERVEDOURO BELA VISTA

Considerado o mais bonito do Jalapão. A piscina deste fervedouro é a maior entre todos os fervedouros abertos para visita, conta com 15m de diâmetro de água transparente e incrivelmente azul. É impossível não ficar hipnotizado com a cor da água e a envolvente.